sexta-feira, 3 de abril de 2009

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Artigo | Armelim Guimarães, neto de Bernardo Guimarães






José Armelim Guimarães é neto do poeta e romancista Bernardo Guimarães. Saiba mais em http://br.geocities.com/paulopes.geo/armelim2.htm

A História do Sul de Minas Gerais no Século XVIII

A Descoberta do Ouro
No final do século XVII os bandeirantes paulistas foram os primeiros a descobrir as areias auríferas ."O boato de que no Brasil fora descoberto ouro espalhou-se depressa em Portugal , e depois , Ilha da Madeira e Açores - e a região conheceu , no primeiro quartel do século XVIII , uma 'corrida prodigiosa' ".(Roger Bastide).
"O caminho das Minas era batido dia e noite pelas comitivas a pé ou no dorso de muares . Os que não se mudavam para as terras do planalto da Mantiqueira associavam-se aos que o faziam , fornecendo capital em escravos, ferramentas ou gêneros , o que tudo era caríssimo por sua escassez e grande procura". (Augusto de Lima Jr.)
Grande contingente de bandeirantes da Capitania de São Vicente , mineradores procedentes da Bahia , Rio de Janeiro , Pernambuco e outras capitanias , além de portugueses que aqui estavam ou que vieram principalmente das ilhas (Açores e Madeira) , foram para a região ao longo do caminho que ia do vale do Paraíba até Vila Rica (atual Ouro Preto) , isto é , as regiões do Vale do Inghay (Aiuruoca) , Baependy , do Rio das Mortes , em São João Del Rey , região do Carmo , em Mariana , Sabará e Pitanguy.
Tanta gente querendo minerar provocou incidentes entre os bandeirantes e emboabas - os forasteiros , tornando Minas uma região violenta.
"Para pacificar e melhor administrar a região, resolveu-se criar , no mesmo ano de 1709, a nova Capitania de São Paulo e Minas do Ouro . Era assim ,aquela zona, desligada de qualquer dependência do Rio de Janeiro , cujos governadores, desde Artur de Sá e Meneses , haviam sido os primeiros a tomar providências quanto à distribuição das minas, tanto aos seus descobridores como aos que quisessem explorá-las". (Hélio Viana - História do Brasil).
A Vila de São Paulo era a capital , devido a maior facilidade dos caminhos , mas a região mais importante e populosa era a das Minas Gerais.
Em 1710 , D. Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho ,primeiro governador da nova Capitania , criou o distrito das Minas.
Em 1711 foram criadas as três primeiras vilas de Minas: Ribeirão do Carmo(Mariana) a 8 de abril , Vila Rica a 8 de julho e Vila Real (Sabará )a 16 de julho.
Em 1714 é assinado , na Vila do Ribeirão do Carmo, o termo de ajuste sobre a repartição das três primeiras comarcas de Minas Gerais : Rio das Mortes (S.J. Del Rey) ,Vila Rica (Ouro Preto) e Rio das Velhas (Sabará).
Em 2 de dezembro de 1720 , D.João V , representado pelo governador, o Conde de Assumar, desmembra as Capitania de Minas Gerais e de São Paulo.
Em 1745 criaram-se a Diocese de São Paulo e a Diocese de Mariana."Aos depósitos de ouro , nos cursos de água e em suas margens , denominavam os antigos de faisqueiras , porque o ouro se apresentava em grãos e folhetos tão grandes que faiscavam ao sol " (Augusto de Lima Jr- A Capitania de Minas Gerais).

Povoamento do Sul de Minas, a oeste do rio Sapucay.


A partir da década de 1740 ,começa a ser povoada a região do Sul de Minas , a oeste do rio Sapucaí , que até então era totalmente selvagem.
José Pires Monteiro , natural de Jacareí , descobre ouro na margem esquerda do rio Sapucay dando inicio ao povoamento do território a oeste deste rio.
A 2 de março de 1746 , o português Francisco Martins Lustoza ,vindo da freguesia da Campanha do Rio Verde ,é nomeado Guarda Mor Regente do novo descoberto e da região do Sapucaí.
Em agosto de 1748 o Rei de Portugal ordena ao Governador mineiro , Gomes Freire de Andrade , que fizesse nova definição das linhas divisórias das capitanias , "como melhor lhe aprovesse" .
Em 19 de setembro de 1749 , o Ouvidor Geral do Rio das Mortes , Dr. Tomaz Rubim de Barros Barreto do Rego , atravessando o Rio , foi ter ao Arraial de Santana do Sapucay , onde fez a divisão e posse ordenadas por Gomes Freire de Andrade .
Em 1755 , Pedro Franco Quaresma, vindo do Arraial do Ressacatú , descobre ouro na região de São Carlos de Jacuy , cuja posse é tomada pela Câmara de Jundiaí. Fundamenta-se neste fato a questão da posse mineira ou paulista sobre a região.
Em 4 de março de 1755 , o padre Inácio Paes de Oliveira é provido , como capelão curado , pelo Bispado de São Paulo."
Em todo "descoberto" , que prometesse uma faiscagem de longa duração e que ainda se descobrisse ouro nos barrancos, próximo ao córrego, sobrevinha a formação de povoado e a construção do elemento mais importante : a capela." (Adilson de Carvalho-A Freguesia de Nossa Senhora da Assunção do Cabo Verde e sua História).
Em 05 de setembro de 1764 , o governador da Capitania de Minas Gerais , Luiz Diogo Lobo da Silva , resolve fazer uma viagem de inspeção pelas regiões limítrofes com a Capitania de S.Paulo. Partindo de Vila Rica , dirigiu-se a comitiva a S. João del Rey , tomando o rumo noroeste , pela margem do Rio Grande , passando por Oliveira , Tamanduá (Itapecerica) , Piunhi , e atravessando o Rio Grande , junto à barra do Sapucaí , penetrou na região sul-mineira . Chegando ao arraial de S.Pedro de Alcântara e Almas do Jacuí , o General Luiz Diogo , destituiu as autoridades paulistas e publicou um Bando , em 24 de setembro de 1764 , pelo qual regulou a posse mineira naquela localidade.
Em dezembro de 1775 as paróquias mineiras eram restituídas ao Bispado de São Paulo.
A região era, então ,governada , no civil , por Minas Gerais e no eclesiástico , pela diocese de S.Paulo.Em 1778 continua a discussão sobre a questão dos limites.

Veja abaixo o Mapa da Comarca do Rio das Mortes em 1780, elaborado por Manoel R. Guimarães, ou veja mais detalhes logo abaixo no mapa do Sul de Minas em 1778 elaborado por José Joaquim da Rocha.



Veja "Abecedário de Moradores da Capitania de Minas Gerais - Secção manuscritos - Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro - Ano 1792 . Livro n. 5-Comarca do Rio das Mortes."

Veja Mapa do Termo da Villa da Campanha da Princeza em 1814.(Augusto de Lima-Limites entre Minas e São Paulo).



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Texto extraído do site da Família Medeiros - Ramo de Passos - Minas Gerais - Brasil

( http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.geocities.com/Athens/7452/suldeminas1778.jpg&imgrefurl=http://www.geocities.com/Athens/7452/suldeminas.html&h=1301&w=1554&sz=157&hl=pt-BR&start=1&um=1&tbnid=XGamlrTOXqARnM:&tbnh=126&tbnw=150&prev=/images%3Fq%3D%2522sul%2Bde%2Bminas%2522%26gbv%3D2%26svnum%3D10%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN )

Venceslau Brás | Presidente da República entre 1914 e 1918


Saiba mais sobre Venceslau Brás em http://pt.wikipedia.org/wiki/Venceslau_Brás.

José Armelim Guimarães, historiador e jornalista amigo de Antonio Martins, escreveu obra entitulada “Wenceslau Braz, o Mineiro que Dobrou o Caudilho” (1966 - Editora Gráfica O Sul de Minas).

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Prece

Senhor, eu creio em Vós e não duvido
Da amplitude de Vosso amor.
Porque sois a porta de todos os mundos,
E a luz de todas as estrelas.

Senhor, eu creio em Vós e na bondade
De vosso amor indefinível,
Porque sois a fonte de todas as fontes
E a água cristalina da pureza
Que mitiga a sede de quem tem fé
Senhor, eu tenho fé
Senhor, eu tenho sede
Dai-me apenas um pouco dessa água
Para que eu possa prosseguir minha jornada
Pelos caminhos do mundo.

Senhor, eu creio em Vós
Porque sois a luz de todas as luzes,
A vida de todas as vidas
E o caminho de todos os caminhos
Amparai-me, Senhor:
Na encruzilhada dos caminhos
Com a luz de vosso amor.

Senhor de todos os mundos,
Tende piedade de mim.
Beijando o pó das estrelas
Ou o simples pó deste chão,
Eu me curvo, Senhor,
Ante a Vossa Majestade.

Senhor, eu creio em vós
Porque sois o sol de todos os sóis.
A Vida, o Amor e a Verdade...
Senhor de todos os mundos,
Tende piedade de mim!

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De que se tem notócia, este foi o último poema de autoria de Antonio Martins. No jornal O Sul de Minas, de 13 de agosto de 1983, o historiador Armelim Guimarães, em matéria entitulada de “O canto de Cisne de Antônio Martins” comentou que “três dias antes de partir para o reino da verdadeira Poesia, e de deixar este mundo de agruras e de mazelas, compôs ele, com o pensamento inteiramente voltado para Deus, o seguinte poema-oração, em versos brancos e soltos, liberdade de que rarissimamente usou”.

Paisagem Crepuscular

Morre o sol. Os passarinhos,
Em bandos, voam contentes
Á procura de seus ninhos
Nas florestas florecentes.

Entardece... Já dos crentes,
Almas de amor, de carinhos,
Ouvem-se as vozes ardentes
Rezando pelos caminhos...

No bosque e nas serranias
Ecôa com mui brandura
O canto das ramarias...

O mar rebrame na praia,
A leve brisa murmura,
E a luz da tarde... desmaia.

Hino do Batalhão Suez e Hino de Brasília









Em defesa da paz do universo

Aqui estamos com honra e altivez,

Desfraldando a bandeira brasileira

Junto ao grande Canal de Suez.

O Brasil sabe amar com respeito

Seus vizinhos e irmãos de outras terras,

Por saber que esse amor que nos une

Tem horror aos perigos das guerras.

O Brasil nos mandou, confiante

Na missão a cumprir com brandura,

Mas, se formos chamados à luta,

Saberemos lutar com bravura.

Salve, linda bandeira brasileira,

Que tremula, feliz, no estrangeiro,

Tu nos trazes o orgulho supremo

De nascermos em chão brasileiro.

De Suez, onde estamos a postos

Nós saudamos com forte emoção

O Brasil, nossa pátria querida,

Que confia na nossa missão.

E um dia, quando voltarmos

Ao pátrio solo gentil,

Nós contaremos e coro:

Salve, salve, meu Brasil!





Como foi recebido o Hino do Batalhão Suez.

Do Dr. Augusto Couto, do Instituto Histórico de Ouro Preto:
“Ao seu ilustre amigo Sr. Antônio Martins. Augusto Couto visita cordialmente e agradece o seu bem feito “Hino do Batalhão Suez”. Seu trabalho reflete bem a nossa índole pacifista, espelhando por igual, a nossa vocação de lutar em defesa da liberdade. Parabéns e votos para que prossiga no bom serviço das Letras”.

Do Marechal Rondon.
“Ao Sr. Antônio Martins, o Marechal Rondon penhorado agradece”. Rio, 03/07/1957.

Do Sr. Presidente da República.
“Senhor Presidente da República incumbiu-me agradecer-lhe gentileza oferecimento exemplar Hino ao Batalhão Suez, sua autoria, cujo valor cívico e artístico muito apreciou”. Cordiais Saudações. Cristiano Martins, Secretário particular Presidente da República.








segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A Morte do Tabaréu


quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Retrato | por José Armelin


Biografia de Antonio Martins | por Leandro Martins


Nasceu na cidade de Cambuquira aos 2 de novembro de 1912. Filho de Pedro Martins Ribeiro e Maria Cândida Melo Martins. É membro efetivo da Academia Sul-Mineira de Letras, do Grêmio Brasileiro de Trovadores e da AIL – Academia Itajubense de Letras. Colaborou com assiduidade em vários jornais e revistas do Rio de Janeiro, Minas e São Paulo. Já publicou: “Os Torturados” (Poesias) e tem inéditos os seguintes livros: “Campo Florido”, “Minha Terra”, “Tonadilhas”, “Cantigas do Troveiro” (Trovas), “Cantigas do Coração” (Trovas) e “Velhas Poesias”. Em Itajubá, foi o organizador de uma POLIANTÉIA, em homenagem ao Doutor Theodomiro Santiago, cujo trabalho foi elogiado pelo Instituto Histórico de Ouro Preto. Fundou e dirigiu os seguintes jornais: “O Progresso” (Cambuquira), “O Resumo” (Itajubá), “O Independente” (São José do Alegre) e, “Tribuna Sul-Mineira” (Brazópolis). Com o jornalista Sinésio Fagundes, fundou, em São Lourenço, a revista “A Montanha”. Colaborou no suplemento da “A Noite” do Rio de Janeiro. Vários trabalhos seus foram aproveitados para duas Antologias, organizadas respectivamente, por Luiz Otávio e Félix Ayres.
Antônio Martins Ribeiro, academicamente, nunca chegou a formar-se como farmacêutico. Era autodidata. Fez diversos cursos de especialização na capital mineira, Belo Horizonte, a fim de obter licença para poder operar com próprio estabelecimento, uma Farmácia própria onde fosse reconhecidamente Farmacêutico. Ao final da década de 30, mais precisamente em 1939, na pequenina Olegário Maciel, casou-se com Maria Cândida Martins Ribeiro, professora, natural da cidade de Santa Rita do Sapucaí, e desta união nasceram os filhos: Cláudio Martins Ribeiro, comerciante em Piranguçu; Gesmer Martins Ribeiro, diretor de ensino e professor em São Paulo; Maria Beatriz Ribeiro Martins, professora e artesã; Cláudia Regina Martins Rodrigues, professora de Artes Plásticas; Maria Imaculada M. Ishybashy, poetisa e professora universitária em Mogi das Cruzes; Antônio Martins Ribeiro Filho, caçula falecido e sepultado aqui em Piranguçu; e Hamilton Martins Ribeiro, falecido aos dois meses de idade, sepultado na cidade de São José do Alegre. Na lápide de Hamilton encontra-se algumas palavras da autoria do pai:
HAMILTON.
“Aqui jaz nosso filhinho
Nossa glória fenecida
Se ele foi nossa esperança
Também foi nossa vida”.
Antônio e Maria, (* 29/08/1946 + 17/10/1946).

Antônio Martins possui treze netos e seis bisnetos. Também possui um sobrinho poeta – Argemiro Martins Corrêa – natural de Caxambu.
Um dos ilustres amigos que teve Antônio Martins é o historiador itajubense José Armelim Bernardo Guimarães. Fez ele, através de colaborações de jornais, livros e revistas de grande circulação regional, várias citações e homenagens ao amigo poeta e farmacêutico. Sobre o amigo Antônio Martins, Armelim escreveu: “Conheci Antônio Martins em 1936, quando ele trabalhava na Farmácia Jorge Braga, na Praça Theodomiro Santiago, ano em que ele fundou o jornal “O Resumo”, e foi esse jornal que me aproximou de Antônio Martins não só porque dera ele, em seu periódico, amável acolhida a umas minhas croniquetazinhas, sem nenhum mérito, que hoje eu não publicaria, mas, sobretudo pela imensa admiração que logo me despertou por sua genialidade como poeta nato, espontânea e original. E junto com a admiração nasceu a amizade.” Sobre o poeta Antônio Martins, Armelim escreveu: “Em suas composições não se encontra arrebiques pernósticos, nem idiossincrasias fechadas. Suas poesias, vazadas nos moldes clássicos da forma, da musicalidade e do primor rítmico encantam pela simplicidade, sobretudo pela simplicidade, pela doçura das adjetivações, pela clareza, pelo embalo cadencioso e, sobretudo, pelo lirismo espontâneo e cristalino de um Cassimiro de Abreu, de um Antônio Nobre, de um Gonçalves Dias. Poeta de notável inspiração, trovador admirável, muitas de suas trovas foram incluídas por Luiz Otávio em uma Antologia.” Sobre o Historiador Antônio Martins, Armelim escreveu: “Antônio Martins Ribeiro, era esse o seu nome completo, mas em seus versos e obras em prosa só assinava os dois primeiros nomes. Desde os nove anos de idade se dedicava ao serviço de farmácia. Estabelecendo-se com farmácia própria, residiu em Biguá, Delfim Moreira, Olegário Maciel (onde se casou), Bela Vista, São José do Alegre e finalmente, Piranguçu, falecendo em 17 de Agosto de 1962, e onde está sepultado”. Nesta ligeira crônica de saudosista, rendo-me ao preito de homenagem à memória desse admirável intelectual e meu amigo que foi, e que hoje descansa deste orbe no campo-santo da pacata e aprazível cidade de Piranguçu.”
Leva seu nome a Biblioteca Pública Municipal do município de Piranguçu, em Minas Gerais.
Faleceu em 1962 deixando viúva sua esposa Maria Cândida Martins Ribeiro, que veio falecer anos mais tarde nesta mesma cidade, aos 13 de Fevereiro de 1991.

Temário da Dor

Dor lembra sombra por fora,
Mas, por mais densa e sofrida,
É sempre ação para dentro,
Tranzendo mais luz à vida.

O gênio para ser gênio
Sublime, revelador,
É força de inteligência,
Crucificada na dor.

No todo da vida humana
A prova que nos magoa,
Em tudo, é a parte de Deus,
Enobrecendo a pessoa.

A dor que mais ilumina
Por transformar-se no bem,
Nunca pede compaixão
Nem atrapalha a ninguém.

A lágrima, em toda estrada,
Desde a mais pobre à mais rica,
É uma ilusão que se apaga,
Uma verdade que fica.

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Poema recebido pelo médim Francisco Cândido Xavier ("Chico Xavier"), em reunião da Comunhão Espírita Cristã, na noite de 19.01.72, em Uberaba, Minas Gerais.

Publicado em edição do Grupo Espírita Emmanuel ( http://www.geem.org.br/ ) - Sociedade Civil Editora - Filiado à Câmara Brasileiro do Livro (Insc. nº 128) - Redator Responsável: J. Herculano Pires - Ano 5 - ns. 52 a 54 - Abril a Junho - 1972.

Os Torturados | 1951

É triste a vida do pobre,
Do pobre do lavrador,
Que ganha doze cruzeiros
Por um dia de suor.

É triste a vida do pobre,
Do pobre do lavrador,
Que fica doente e não pode
Ter remédio e nem doutor.

Se quer remédio, o patrão
Lhe diz: "Dinheiro não há".
E o pobre volta intranquilo,
Que se contente com o chá.

Quantos patrões eu conheço
Nesta zona mal-fadada,
Que não dão conforto algum,
Ao pobre do camarada.

Por moradia o pobre tem
Somente a velha tapera,
Onde a dor só lhe acompanha
E a doença sempre lhe espera.

O filho do lavrador
A existência leva inerme...
Os olhos fundos de fome,
Barrigas cheias de verme.

Vejo que o próprio Governo
Abandona o lavrador,
O homem que luta e que sofre,
Mas que nunca tem valor.

O pobre vive infeliz,
Não tem direito à ventura.
Prazer de pobre é cachaça
E o bolão de rapadura.

O toque de uma viola
Quando a tarde vai morrendo,
É que consola o caboclo
Que vive sempre sofrendo...

Deus é bom e é poderoso,
Dá valor a quem merece,
Mas não se lembra do pobre
Que na lavoura padede.

Parece que o próprio Deus
Não se lembra da pobreza!
Todo o prazer deste mundo
Pertence a quem tem riqueza.

Prazer de pobre é viola...
Viola, fumo e cachaça,
Que lhe dão muita alegreia,
mas lhe aumentam a desgraça.

Se o pobre já tem um filho
Já no ponto de ir à escola,
Não pode mandá-lo logo,
Pois também já quer esmola.

Já quer esmola, porque,
Não tem roupa pra vestir:
Se tem calça, não tem
Uma blusa de zefir.

Se o pobre fica doente
E há urgência em se tratar,
No hospital sempre lhe dizem:
"Por ora, não há lugar."

É triste a vida do pobre,
Do pobre trabalhador,
Que vive sempre sofrendo
Sem amparo e sem valor.

O pobre, triste e coitado,
Só tem mágoas a carpir
Nem casa para morar
Ele pode possuir.

Cama de pobre é tarimba,
Mesa de pobre é caixote...
Na cozinha velhas latas,
Um pilão e um velho pote.

O pobre também não tem
Nem direito de votar.
O patrão - algoz, tirano,
Quer lhe a vontade roubar.

É triste a vida do pobre,
Do pobre do lavrador,
Que dá riqueza ao patrão,
Mas que nunca tem valor.

Eis o enfeite da casa
Do pobre do lavrador:
Um santinho na parede
E uma latinha de flor.

Na roupa desses humildes
E esquecidos lavradores,
Só há remendos... remendos...
Remendos de várias cores.

De manhã, mui cedo ainda,
Estrelas no céu brilhando,
Lá na fazenda se ouve
Um sino já badalando...

É o sino que está chamando
A turma para o labor.
É mais um dia de luta,
Quer haja frio ou calor.

Há homens que saem cedo
Sem coragem, sem alento,
Cujo estômago vazio
Reclama algum alimento.

Merece pena o colôno
Que trabalha até noitinha,
Cujo alimento é somente
O feijão e a cangiquinha.

Se o pobre bebe cachaça,
É porque só tem tristeza
Por viver sempre sofrendo
Nas angústias da pobreza.

Quando o pobre vai fazer
Suas compras no mercado,
Compra tudo de pouquinho,
Seu dinheiro é racionado.

Pobre não toma café,
Toma chá de rapadura;
Sua comida é angú,
Feijão e arroz sem gordura.

Eu tenho pena do pobre,
(sempre fui pobre também),
Que não pode plantar nada,
Que só vive no marmazém.

O pobre sempre padece
Na mais amarga desgraça.
Se falta um dia ao trabalho,
O patrão diz que é pirraça.

Pobres colônos de Minas,
Do Sul de Minas Gerais,
Que ganhais doze cruzeiros
Nas ruas dos cafezais.

Onde estão as nossas leis
De proteção ao colono?
Só existem em papéis,
Dormindo profundo sono...

Filho de pobre também
É muita vez humilhado,
Quando se encontra com um rico,
Arrogante e bem trajado.

Tenho pena dos que sofrem,
Dos que andam mal trajados,
Dos que não têm conforto,
Que vivem sempre humilhados.

Precisamos de uma lei
De proteção e carinho,
Que ampare o filho do pobre
Que também é pobrezinho.

Pelo menos no interior
Da nossa Minas Gerais,
Não há lei nesse sentido,
Leis só há nas capitais.

Os nossos homens do campo
Não têm, não têm proteção.
Mesmo assim são forças vivas
Da grandeza da Nação.

Somente alguns elementos,
Do Rio e outras capitais,
É que se tratam de graça,
Tendo médicos e hospitais.

É triste a vida do pobre,
Do pobre do interior,
Que fica doente e não pode
Ter remédio nem doutor.

Filhos dos nossos roceiros
Também tem o seu azar:
Professoras que lhedão,
Nada sabem ensinar.

Legiões de analfabetos
Prejudiciais à Nação,
Eis o que vemos, senhores,
Nesta vasta região.

Que venha um novo regime
Que ampare o trabalhador,
E que seja a salvação
De quem luta no interior.

Que volte logo, senhores,
Nosso Vargas ao poder,
Para dar mais esperança
A quem vive a padecer.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007