quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Os Torturados | 1951

É triste a vida do pobre,
Do pobre do lavrador,
Que ganha doze cruzeiros
Por um dia de suor.

É triste a vida do pobre,
Do pobre do lavrador,
Que fica doente e não pode
Ter remédio e nem doutor.

Se quer remédio, o patrão
Lhe diz: "Dinheiro não há".
E o pobre volta intranquilo,
Que se contente com o chá.

Quantos patrões eu conheço
Nesta zona mal-fadada,
Que não dão conforto algum,
Ao pobre do camarada.

Por moradia o pobre tem
Somente a velha tapera,
Onde a dor só lhe acompanha
E a doença sempre lhe espera.

O filho do lavrador
A existência leva inerme...
Os olhos fundos de fome,
Barrigas cheias de verme.

Vejo que o próprio Governo
Abandona o lavrador,
O homem que luta e que sofre,
Mas que nunca tem valor.

O pobre vive infeliz,
Não tem direito à ventura.
Prazer de pobre é cachaça
E o bolão de rapadura.

O toque de uma viola
Quando a tarde vai morrendo,
É que consola o caboclo
Que vive sempre sofrendo...

Deus é bom e é poderoso,
Dá valor a quem merece,
Mas não se lembra do pobre
Que na lavoura padede.

Parece que o próprio Deus
Não se lembra da pobreza!
Todo o prazer deste mundo
Pertence a quem tem riqueza.

Prazer de pobre é viola...
Viola, fumo e cachaça,
Que lhe dão muita alegreia,
mas lhe aumentam a desgraça.

Se o pobre já tem um filho
Já no ponto de ir à escola,
Não pode mandá-lo logo,
Pois também já quer esmola.

Já quer esmola, porque,
Não tem roupa pra vestir:
Se tem calça, não tem
Uma blusa de zefir.

Se o pobre fica doente
E há urgência em se tratar,
No hospital sempre lhe dizem:
"Por ora, não há lugar."

É triste a vida do pobre,
Do pobre trabalhador,
Que vive sempre sofrendo
Sem amparo e sem valor.

O pobre, triste e coitado,
Só tem mágoas a carpir
Nem casa para morar
Ele pode possuir.

Cama de pobre é tarimba,
Mesa de pobre é caixote...
Na cozinha velhas latas,
Um pilão e um velho pote.

O pobre também não tem
Nem direito de votar.
O patrão - algoz, tirano,
Quer lhe a vontade roubar.

É triste a vida do pobre,
Do pobre do lavrador,
Que dá riqueza ao patrão,
Mas que nunca tem valor.

Eis o enfeite da casa
Do pobre do lavrador:
Um santinho na parede
E uma latinha de flor.

Na roupa desses humildes
E esquecidos lavradores,
Só há remendos... remendos...
Remendos de várias cores.

De manhã, mui cedo ainda,
Estrelas no céu brilhando,
Lá na fazenda se ouve
Um sino já badalando...

É o sino que está chamando
A turma para o labor.
É mais um dia de luta,
Quer haja frio ou calor.

Há homens que saem cedo
Sem coragem, sem alento,
Cujo estômago vazio
Reclama algum alimento.

Merece pena o colôno
Que trabalha até noitinha,
Cujo alimento é somente
O feijão e a cangiquinha.

Se o pobre bebe cachaça,
É porque só tem tristeza
Por viver sempre sofrendo
Nas angústias da pobreza.

Quando o pobre vai fazer
Suas compras no mercado,
Compra tudo de pouquinho,
Seu dinheiro é racionado.

Pobre não toma café,
Toma chá de rapadura;
Sua comida é angú,
Feijão e arroz sem gordura.

Eu tenho pena do pobre,
(sempre fui pobre também),
Que não pode plantar nada,
Que só vive no marmazém.

O pobre sempre padece
Na mais amarga desgraça.
Se falta um dia ao trabalho,
O patrão diz que é pirraça.

Pobres colônos de Minas,
Do Sul de Minas Gerais,
Que ganhais doze cruzeiros
Nas ruas dos cafezais.

Onde estão as nossas leis
De proteção ao colono?
Só existem em papéis,
Dormindo profundo sono...

Filho de pobre também
É muita vez humilhado,
Quando se encontra com um rico,
Arrogante e bem trajado.

Tenho pena dos que sofrem,
Dos que andam mal trajados,
Dos que não têm conforto,
Que vivem sempre humilhados.

Precisamos de uma lei
De proteção e carinho,
Que ampare o filho do pobre
Que também é pobrezinho.

Pelo menos no interior
Da nossa Minas Gerais,
Não há lei nesse sentido,
Leis só há nas capitais.

Os nossos homens do campo
Não têm, não têm proteção.
Mesmo assim são forças vivas
Da grandeza da Nação.

Somente alguns elementos,
Do Rio e outras capitais,
É que se tratam de graça,
Tendo médicos e hospitais.

É triste a vida do pobre,
Do pobre do interior,
Que fica doente e não pode
Ter remédio nem doutor.

Filhos dos nossos roceiros
Também tem o seu azar:
Professoras que lhedão,
Nada sabem ensinar.

Legiões de analfabetos
Prejudiciais à Nação,
Eis o que vemos, senhores,
Nesta vasta região.

Que venha um novo regime
Que ampare o trabalhador,
E que seja a salvação
De quem luta no interior.

Que volte logo, senhores,
Nosso Vargas ao poder,
Para dar mais esperança
A quem vive a padecer.

Nenhum comentário: